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A economia russa em tempos de COVID-19

Em 26 de março (2020), foi realizado um encontro virtual extraordinário pelo grupo das vinte maiores economias do mundo (G20) para coordenar uma resposta à pandemia do Coronavírus, uma vez que a crise sanitária ameaça a economia mundial de uma recessão prolongada. Conjuntamente, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reitera medidas de contenção cada vez mais rigorosas, necessárias para retardar a propagação do Covid-19, mas adverte que ocorrerão cenários que, necessariamente, levarão a declínios significativos no PIB (Produto Interno Bruto) de curto prazo para muitas das principais economias, de acordo com suas novas projeções.


O secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, revelou as últimas estimativas da Organização mostrando que o bloqueio afetará diretamente setores que totalizam até um terço do PIB nas principais economias. Para cada mês de contenção haverá uma perda de 2 pontos percentuais no crescimento anual do PIB.


A Federação Russa será uma das nações que terão sua perspectiva de crescimento econômico para 2020 afetada pelo desbalanceamento econômico global. A OCDE, através de seu relatório intitulado “Coronavirus: The World Economy at Risk” (tradução – Coronavírus: A Economia Mundial em Risco), cortou drasticamente sua previsão para a economia russa em torno de 25%, onde espera agora que o crescimento anual do PIB da Rússia chegue a apenas 1,2% em 2020 — abaixo dos 1,6% previstos no final de 2019.




Índice russo RTS


O relatório vem depois de uma semana histórica nos mercados financeiros, que viram bilhões de dólares serem dizimados à medida que os mercados de ações caíam. Na Rússia, o índice RTS* caiu 21% nas últimas semanas, pressionado para baixo à medida que os preços do petróleo caíam para US$ 24,63 (cotação do barril Brent em 27/03/20 – cerca de R$ 125,78**), menor valor nos últimos 17 anos. Preços mais baixos do petróleo pressionam o orçamento estatal russo, que ainda depende das exportações do óleo para uma parcela significativa de sua renda.


A redução de 0,4 ponto percentual na previsão para 2020 para a Rússia foi proporcionalmente melhor do que a economia mundial como um todo, já que os economistas reduziram sua previsão para o crescimento global este ano de 2,9% para 2,4%. Apesar das quedas consecutivas da sua performance econômica, a Rússia se mantém otimista devido acontecimentos mundiais que consequentemente ajudarão na retomada da estabilidade econômica. Na última semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que havia sinais de alguma estabilização no surto da Europa, com os bloqueios europeus começando a dar frutos. Enquanto isso, as autoridades monetárias e fiscais globais continuaram intensificando as medidas de alívio econômico.

A expectativa para a retomada da valorização do rublo (moeda nacional) em relação ao dólar americano é bastante esperada pelo Governo russo, depois de vários dias de negociações após seu dramático colapso assim que o país saiu do acordo de aliança petrolífera da OPEP+, no início de março.

Na última sexta feira, 3 de abril (2020), mercados financeiros do mundo, principalmente o russo, foram alimentados com a esperança de um novo acordo entre Arábia Saudita, Rússia e possivelmente EUA, a ser realizado em reunião que decidirá sobre cortes na produção de petróleo e na restauração do equilíbrio no mercado. O mercado de petróleo continua sob pressão de uma demanda em queda devido a restrições no transporte de pessoas e bens, impostas pelos governos para impedir a propagação da pandemia de COVID-19. Ao mesmo tempo, há um excesso de oferta devido à guerra de preços entre Riad e Moscou.

Para analistas financeiros, no nível global de investimentos, a atenção permanece sobre se os mercados acionários mundiais atingiram seu pior momento, ou se o recente rali para recuperação econômica é sinal de um “salto de gato morto”, ou seja, uma mini recuperação antes de uma queda contínua. Oliver Brennan, da T.S. Lombard, em uma nota de pesquisa publicada na quarta-feira (01/04/20), destaca como a incerteza sobre a disseminação do vírus e potenciais infecções, particularmente nos EUA, não deve justificar o otimismo do mercado ainda.


 

Nota:

* O RTS Index (RTSI) é um índice sobre ações das 50 maiores empresas russas (à data de 17 de março de 2017) que são negociadas na Bolsa de Valores de Moscou (RTS Stock Exchange). A lista de ações que compõem o índice é revista trimestralmente pelo Comité de Informação do RTS. O índice foi criado com uma base 100, correspondente à capitalização das suas componentes no dia 1o de setembro de 1995. O mínimo histórico foi de 37,74 pontos no dia 5 de outubro de 1998 e o máximo histórico foi de 2.498,10 no dia 19 de maio de 2008.

** Cotação do dólar do mesmo dia – 1US$ = R$ 5,1066.


 

O colunista Sputnik Commercial & Consulting Edson José Araújo é economista, pós-graduado em Economia pela FEA-USP (MBA) e Docência no Ensino Superior (SENAC). Articulista no Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais (CEIRI) e pós-graduando em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).


 

https://ceiri.news/a-economia-russa-em-tempos-de-covid-19/?fbclid=IwAR2NldTZar4Ee2GPOhB_mFiDmJdaDURh9_0e19IIpPtdJyeEbAEQg8XSeVI

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