Especialista russo: Ações de Bolsonaro levaram a um esfriamento nas relações com a Rússia
O Igor Pshenichnikov, especialista do Instituto Russo de Estudos Estratégicos acredita que as ações do Presidente do Brasil levaram a um esfriamento nas relações com a Rússia
A política externa do líder brasileiro Jair Bolsonaro impede o pleno desenvolvimento da cooperação entre a Rússia e o Brasil, mas os Estados ainda têm um potencial significativo de interação bilateral no âmbito do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Esta opinião foi expressa na segunda-feira em uma entrevista com um correspondente da TASS por um especialista do Instituto Russo de Estudos Estratégicos (RISI) Igor Pshenichnikov, comentando o 20º aniversário da assinatura do acordo de parceria entre os países.
Segundo ele, as relações russo-brasileiras nos últimos 20 anos estavam no auge durante o governo no Brasil dos presidentes Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Esse período favorável terminou com o advento de Bolsonaro, que resolutamente revisou as abordagens de seus antecessores. "Há uma mudança completa na política externa, que, é claro, tem um impacto nas relações bilaterais entre a Rússia e o Brasil e na cooperação dentro da estrutura do BRICS", disse a fonte.
Ele explicou que Bolsonaro, que é frequentemente chamado de "Donald Trump brasileiro" pela imprensa, é um político pró-americano e simpatiza abertamente com o atual chefe da Casa Branca. Isso também é confirmado pelas ações recentes do Brasil na região: o governo do país segue um curso claramente hostil em relação aos aliados da Rússia na América Latina - Venezuela e Cuba. "O que Bolsonaro está fazendo agora em política externa, é claro, não satisfaz fundamentalmente a Rússia", enfatizou Pshenichnikov.
Choque de interesses
O analista enfatizou a posição beligerante que o Brasil assumiu depois dos Estados Unidos em relação à Venezuela. Assim, segundo ele, as autoridades brasileiras chegaram a considerar a questão de uma invasão armada da República Bolivariana junto com os militares dos EUA.
Desde os primeiros dias como presidente, Bolsonaro também começou a tomar medidas hostis em relação ao governo cubano. "Assim que ele chegou ao poder, expulsou todos os médicos cubanos que trabalhavam no Brasil sob o programa intergovernamental "Mais médicos ", disse Pshenichnikov. Ele acrescentou que especialistas cubanos praticamente reestabeleceram o sistema de saúde do país e trabalharam em áreas remotas da Amazônia, onde médicos locais recusaram-se a ir mesmo recebendo para isso muito dinheiro.
Segundo o especialista, as altas taxas de mortalidade por coronavírus no Brasil também são consequência da recusa dos serviços dos médicos cubanos. "Tudo isso, é claro, não fortalece as relações entre a Rússia e o Brasil, porque apoiamos a Venezuela e Cuba", concluiu.
O futuro das relações russo-brasileiras
Pshenichnikov apontou que a luta contra a pandemia em si não se tornou um fator unificador nas relações russo-brasileiras. Bolsonaro ainda não acredita na ameaça representada pelo coronavírus, apesar de mais de 50 mil pessoas terem sido vítimas de infecção em seu país. "Não acho que a Rússia deva intervir nessa questão [e oferecer sua ajuda], porque no Brasil esse tópico tem uma conotação política muito vívida, tornou-se um fator na luta política doméstica", explicou a fonte.
No entanto, apesar de todas as diferenças nas abordagens da Rússia e do Brasil em política externa, os estados ainda mantêm um grande potencial para o desenvolvimento da cooperação bilateral. Por exemplo, todos os programas dentro do BRICS ainda estão em operação, e a liderança brasileira não pretende encerrar sua participação nos trabalhos da associação. Mas, como observou Pshenichnikov, para restabelecer totalmente os laços anteriores entre os dois países, para a Rússia resta apenas esperar até o Brasil ter um novo presidente.
MOSCOU, 22 de junho. / TASS /.
Publicado originalmente por TASS, disponível em:
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