Ivan Turgueniev, o reinado que não finda

Ivan Turgueniev
Para compreendermos bem a literatura de Ivan Turgueniev seria necessário recuarmos no tempo e flagrantizar a velha Rússia dos Tazares no desenrolar dos calendários, que se sucederam no decorrer dos séculos XVIII e XIX, pois o imortal escritor nasce, exatamente, em 1818, recebendo toda a influência do século anterior, na cidade de Orel, na zona central do país, situada numa colina a dominar o famoso rio Oka. A terra natal de Turgueniev é essencialmente agrícola com predominância das lavouras de trigo, centeio e batatas, com alguns curtumes, fábricas de tecidos, inclusive jazidas de carvão e de asfalto e tem uma longa história que vem desde o século XVI fundada por ordem e Ivan o Terrível, primeiro Tzar da Rússia nascido em 1503 e falecido em 1584. Depois de seus estudos em Moscou e Petrogrado, Turgueniev foi para Berlim, em cuja universidade se diplomou.
Jovem, inteligente, sensível, percebe em contato com outras civilizações quão precária era a situação do servilismo de seus compatriotas. Insurgindo-se contra essa ordem social, escreve sua famosa obra, cheia de juventude e de entusiasmo, sob o título: “Memórias de um caçador”, publicada em 1847. Desse momento em diante, toda sua vida de escritor é dedicada a narrar a organização, os costumes e as paisagens de seu país natal, levantando um monumento literário digno de figurar entre os mais belos e mais profundos das letras universais.
Na América, nasceu na mesma época de Turgueniev, em São Paulo, o poeta literário Paulo Eiró, e na Bahia, outro imenso espirito, o genial Castro Alves. Na Inglaterra, justamente em 1812, na cidade de Portsmouth, nasce Charles Dickens; na França, em Besançon, no ano de 1802, vem ao mundo Victor Hugo, um dos maiores escritores de todos os tempos.
Estamos relacionando estas datas e estes nomes para deles extrairmos profundas lições humanísticas, pois os seus imortais escritores conseguem com suas vozes através de seus livros, mudar a face do mundo!
Os problemas da servidão, que enodam a parte russa da Europa, e que tanto chocaram a sensibilidade de Turgueniev, desdobraram-se no solo americano e ferem os corações de Paulo Eiró e Castro Alves, são os primeiros escritores brasileiros a desfraldarem a bandeira do abolicionismo.
Nos mesmos lustros do mesmo século, Dickens advoga a proteção legal da legislação inglesa para as crianças de pais desconhecidos, marginalizados nas piores inferioridades sociais. Na França, Victor Hugo, com sua monumental obra, “Os miseráveis”, consegue humanizar a lei penal francesa.
É claro que em poucas linhas vai ser difícil analisar a contribuição que esses escritores prestaram à civilização contemporânea.
Fixamos alguns momentos para demonstrarmos o quanto crescem em nosso reconhecimento e admiração aquelas inestimáveis contribuições de alguns espíritos que, acima da gelidez dos números do Dever e do Haver, colocaram a sua obra literária, bela e imortal, em prol de um mundo melhor!
Tal é a missão dos que escrevem, como intérpretes das aspirações, dos sofrimentos, das esperanças, dos povos de onde emergem.
É neste supremo instante que a Literatura deixa de ser uma finalidade em si mesma para tornar-se coisa sagrada, pois ela enfrenta, na sua estesia, na sua forma, no seu estilo, qualidades que pertencem à arte literária, as muitas e densas trevas dos problemas humanos, para os quais ela envia a sua mensagem e sua luz, pois todas as conquistas sociais, a partir do século XVIII, com a Revolução Francesa de 1789, e a Revolução Russa de 1917 que deram aos povos imenso avanço humano, são decorrentes também da difusão do livro e da cultura, balizas daquele Amor que em política se chama Espírito Público.