"Não temos ilusões." As principais teses de Lavrov na grande conferência de imprensa
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, deu uma grande coletiva de imprensa sobre os resultados de 2020. O evento discutiu temas como a vacinação contra o coronavírus e o combate à pandemia, as relações com os Estados Unidos e as expectativas do governo do presidente eleito Joseph Biden, a situação no entorno de Nagorno-Karabakh e muitos outros.

Relações com o Ocidente
A Rússia está preocupada com as ações dos Estados Unidos e seus aliados para minar a segurança internacional. De acordo com o chefe do Ministério, fora da ONU, estão sendo criados “mecanismos exclusivos, de grupos de pensamento único”, cujas soluções se tentam impor a todos os atores das relações internacionais. Lavrov disse que o Ocidente nunca forneceu evidências sobre acusações infundadas contra a Rússia. O ministro lembrou as acusações sobre a situação de suposta ingerência nas eleições americanas, a situação com os Skripals, a tragédia com o Boeing malaio, bem como a situação com Alexei Navalny. “Ouvimos apenas uma coisa: “ninguém mais teria motivos ”ou“ só vocês têm essas possibilidades e, portanto, vocês são os culpados, e não precisamos provar nada”. Eles não apenas fornecem fatos sobre os quais, em geral, pessoas decentes sempre pautam suas discussões”, frisou o ministro. Lavrov também apontou para padrões duplos na atitude da Grã-Bretanha em relação às situações com as Malvinas e a Crimeia.
Expectativas da administração Biden
Lavrov observou que o governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Joseph Biden, concordará com a Rússia e a China nas áreas em que seja benéfico para os americanos e onde eles não possam prescindir do diálogo. "Tenho a sensação de que, na direção da Rússia, os modos [dos EUA] podem ser um pouco mais educados. Mas é improvável que a essência da política mude", disse o ministro. Lavrov espera que Biden forme uma equipe profissional, não uma "propaganda" com a qual trabalhar nas questões do controle de armas estratégics. Lavrov enfatizou que as nomeações para a equipe de Biden indicam que a linha dominante em Washington continuará. O Ministro das Relações Exteriores da Rússia também observou que Moscou está ouvindo sobre as intenções do novo governo de revisar as decisões tomadas durante a presidência de Donald Trump sobre a retirada dos EUA de uma série de acordos e organizações internacionais como a OMS, a UNESCO e o Conselho de Direitos Humanos da ONU. “Vamos ver - não temos ilusões”, concluiu Lavrov.
Sobre a ciber-segurança de Trump e bloqueio na mídia social
Comentando a situação com o bloqueio pelas redes sociais do presidente americano Donald Trump, Lavrov observou que os dirigentes das grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos desconsideram a constituição de seu país. "A tolerância à diversidade é uma característica que o Ocidente está perdendo muito rapidamente", acrescentou o ministro das Relações Exteriores. “O princípio do acesso à informação foi simplesmente espezinhado”, disse o ministro. Lavrov também disse que o Ocidente ameaçou o Telegram "para privá-lo da oportunidade de fornecer seus serviços". O ministro das Relações Exteriores da Rússia está convencido de que os Estados são obrigados a serem responsáveis pelas ações das empresas, incluindo aquelas que administram redes sociais, e, se necessário, a compatibilizar suas políticas com a lei. "Salientar que Google, Facebook, YouTube e outras empresas não têm obrigações é ridículo e infantil", disse Lavrov. Além disso, o chefe do Ministério das Relações Exteriores da Rússia exortou o Ocidente a iniciar um diálogo construtivo sobre a questão da segurança cibernética na plataforma da ONU e confiar no bom senso.
Luta contra a pandemia
A Rússia está aberta à cooperação em uma vacina contra o coronavírus e vê uma resposta direta de outros países a propostas relevantes, disse Lavrov. Em particular, Moscou está discutindo este tópico com colegas na Ásia, África, América Latina e Oriente Médio. O chanceler também lembrou que o presidente russo, Vladimir Putin, e a chanceler alemã, Angela Merkel, já haviam discutido as perspectivas de cooperação russo-alemã e russo-europeia na produção e melhoramento de vacinas. Ao mesmo tempo, o ministro observou que os Estados Unidos e seus aliados tentaram usar a pandemia para pressionar outros países. Por exemplo, ele anunciou tentativas de interferir nos assuntos internos da Bielo-Rússia. Lavrov acrescentou que os países ocidentais ignoraram os apelos da ONU para suspender durante a pandemia "sanções ilegítimas unilaterais em termos de fornecimento de remédios, alimentos, equipamentos necessários para combater o coronavírus".
Sobre a situação com Alexei Navalny
Lavrov disse que os comentários de políticos ocidentais sobre o retorno de Alexei Navalny à Rússia pretendem desviar a atenção da "crise mais profunda em que se encontra o modelo de desenvolvimento liberal". Lavrov acredita que a repercussão da incidente com Navalny pela política externa de países ocidentais foi artificial. Ele também afirmou que as circunstâncias da detenção de Navalny após seu retorno da Alemanha são da competência dos órgãos de aplicação da lei. Lavrov observou que, no Ocidente, sob vários pretextos, eles se recusaram a transferir os resultados dos testes feitos em Navalny para Moscou. "Só depois que recorremos a Berlim a Haia e vice-versa, nos disseram que havia outro motivo: o próprio Navalny simplesmente não quer que esses dados cheguem à Federação Russa", concluiu o ministro das Relações Exteriores. O Ministro das Relações Exteriores da Rússia também anunciou a necessidade de um pedido adicional da Alemanha no caso Navalny. Lavrov acrescentou que a resposta oficial de Berlim ao pedido da Procuradoria-Geral da Rússia não se baseou em evidências específicas do envenenamento, mas apenas nos dados da pesquisa de Navalny e da pesquisa de sua esposa. Segundo o ministro, o lado alemão não forneceu quaisquer provas materiais. O lado russo não encontrou nenhum indício da presença de agentes de guerra química nas análises de Navalny, não há motivos para iniciar um processo criminal, destacou Lavrov.
Sobre a questão do Nagorno-Karabakh
Lavrov observou que os acordos sobre Nagorno-Karabakh, registrados na declaração conjunta dos líderes da Rússia, Azerbaijão e Armênia em 9 de novembro, estão sendo implementados "de forma bastante eficaz". Não há anexos secretos no comunicado trilateral, frisou o ministro. Lavrov observou que Moscou não tem ideia de incluir Nagorno-Karabakh na Rússia. A Federação Russa está buscando uma troca de prisioneiros de guerra entre a Armênia e o Azerbaijão com base no princípio "todos por todos". Os militares russos, juntamente com colegas desses países, estão verificando as listas dos detidos na região de Hadrut de Nagorno-Karabakh, disse o chefe do Ministério das Relações Exteriores. Lavrov também afirmou que não via razão para obstruir os contatos das autoridades armênias com o Nagorno-Karabakh. O ministro observou que além do acordo sobre o corredor de Lachin, que terá uma nova rota, “será construída uma conexão confiável e permanente entre as regiões ocidentais do território principal do Azerbaijão e Nakhichevan”.
Sobre a situação na Ucrânia
Lavrov disse que os neonazistas na Ucrânia não apenas organizam livremente procissões com tochas, mas também têm um impacto real na política de Kiev. O chanceler russo observou que a Ucrânia, assim como os Estados Unidos, votou contra a resolução aprovada anualmente por iniciativa da Rússia pela Assembleia Geral da ONU, sobre a inadmissibilidade da glorificação do nazismo e outras formas de discriminação racial e xenofobia. De acordo com Lavrov, a principal razão para a falta de progresso na região de Donbass é que Berlim e Paris não podem influenciar Kiev. O ministro lembrou ainda que os representantes de Kiev têm feito recentemente numerosas declarações sobre o caráter não vinculativo da implementação dos acordos de Minsk. "Portanto, agora o principal para mim é entender o que os franceses e os alemães pensam", em resposta às minhas numerosas chamando-os para trazer à razão as autoridades de Kiev, eles saem, como dizemos, para as sombras, e não dizem nada público. Enfatizou Lavrov.
Relações na região asiática
O chanceler destacou que os exercícios militares conjuntos entre Rússia e China visam aumentar a prontidão de combate dos dois países e não são contra o Japão. O ministro destacou os planos dos Estados Unidos de implantar sistemas de defesa antimísseis e mísseis terrestres de médio e curto alcance no território do Japão e da Coréia do Sul. Como Lavrov observou, comentando sobre a parada militar por ocasião do próximo aniversário na República Democrática Popular da Coreia, a Rússia ainda não considera que as ações da RPDC poderiam levar a uma escalada na região.
Sobre a crise na Síria
Lavrov disse que a Rússia não vai "expulsar" os militares americanos da Síria e se envolver em confrontos armados com eles, mas está mantendo um diálogo com Washington, buscando cumprir certas regras. Lavrov observou que a Rússia, entre outras coisas, é dura quanto à inadmissibilidade do "uso da força contra instalações que são do Estado sírio". O ministro das Relações Exteriores da Rússia também pediu a Israel que fornecesse evidências da ameaça da Síria. Lavrov ressaltou que Moscou está pronta para tomar todas as medidas para eliminar ameaças à segurança de Israel vindas do território da RAS, se elas existirem. "Até agora, não recebemos uma resposta concreta a este apelo, mas continuamos a insistir", disse ele. O ministro acrescentou que a Rússia é dura quanto à necessidade de cumprir a resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o Líbano, que é violada pelos israelenses que usam o espaço aéreo sírio para atacar alvos libaneses.
Conteúdo TASS.
Disponível em:
https://tass.ru/politika/10482741