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O Brasil na estratégia dos EUA contra Rússia e China.

Vazamentos da lava a jato, Petrobras, agronegócios

Guerra híbrida e controle da Eurásia.




“Tudo o que está acontecendo no planeta agora tem a ver com a conflagração do século XXI, ou seja, [uma série de movimentos dos] EUA contra a parceria estratégica Rússia-China, o pesadelo supremo do deep state. Mackinder em 1904 em seu famoso texto “Pivô geográfico da história” mostrou já no início do século XX para o decadente império britânico - no contexto de ascensão do império americano e da Alemanha unificada - que o jogo principal era o controle da Eurásia, o hearthland. “Quem controla a Eurásia controla o planeta inteiro.”

Depois da II Guerra Mundial os EUA concentraram-se em controlar os dois extremos da Eurásia, notadamente, Alemanha e Japão. Controlando estes por dentro, com bases [posicionadas geograficamente e através dos mares]. Ambos, Kissinger e Brezinski falavam o mesmo: “não podemos permitir a emergência de um competidor na Eurásia”.

[Contudo, atualmente] está em emergência uma parceria estratégica de Rússia e China, o maior pesadelo das elites americanas, do deep state, do complexo industrial militar e das 16 agências de inteligência os quais todos somados detêm um orçamento de mais de 1 trilhão de dólares anuais.

O Brasil, sozinho, não é uma peça relevante neste jogo, mas por ter sido como membro dos BRICS um impulsionador de medidas que estão sendo importantes [pro agora], especialmente o comércio [através de] suas próprias moedas, se tornou fundamental para o surgimento da era multipolar, com os BRICS como embrião deste novo mundo.

A posição dos EUA é tratar os BRICS como algo sem importância, um clube de países que se reúnem para conversar e de onde não surge nada de concreto, porém, as ações americanas demonstram o contrário, a demonização da China e as sanções contra a Rússia visam minar este novo mundo.

Os BRICS foram o embrião, contudo, agora começam a surgir novos polos de poder notadamente na Eurásia. Neste mês de junho ocorre a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai no Quirguistão envolvendo Rússia, China, Paquistão, Índia, os países da Ásia Central e como observador o Irã, ou seja, todos os principais da Eurásia discutem como se organizar para o século XXI.

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O tabuleiro global.

A “guerra” declarada contra a Rússia via sanções com o intuito de destruir a economia russa se mostra contra produtiva, pois [o país] tem conseguido se reorganizar economicamente passando a investir na produção doméstica, inclusive na agricultura. Tão pouco tem funcionado a tentativa de desestabilizar a Rússia via Ucrânia. Na antiga república soviética da Ucrânia a Rússia está conseguindo manter a situação estabilizada evitando tentativas de se criar uma guerra localizada com uso de forças especiais e sabotagens para minar os russos.

A Rússia [também] tem se [afastado] do dólar. Desde o ano passado a Rússia é o país que mais compra ouro no mundo. O Banco Central russo está a ponto de lançar uma cripto moeda com lastro no ouro, não [sendo] uma cripto moeda sem lastro como bitcoin e outras. Os chineses e iranianos se mostram receptivos à ideia. Nos próximos dois anos poderemos ver uma série de nações do sul-global escapando do dólar e começando a adotar uma moeda de trânsito global baseada em ouro.

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A NSA, o Brasil e a Petrobras.

O plano original começou durante a administração Obama. O deep state da época Obama controlado pelos democratas lançou a operação de espionagem da NSA contra a Petrobras e a então presidente Dilma Rousseff. Começou pela Petrobras, pois, se o Brasil pudesse ser uma ameaça no futuro seria necessário destruir sua indústria-chave. Já sabendo que o Brasil possuía o pré-sal, a lógica era destruir a Petrobras por dentro e fazer o Brasil importar derivados do petróleo, desmembrar a empresa e impedir que os chineses adquirissem os melhores contratos do pré-sal.

Tudo isso foi conseguido a partir de espionagem da NSA e posterior entrega dessas informações para seu ativo no Brasil, o juiz Sérgio Moro. Isso tudo foi conseguido porque seus ativos aqui no Brasil, incluindo o atual ministro Sérgio Moro, foram cultivados por muito tempo, não só pelo Departamento de Estado norte-americano, mas também pela CIA, NSA e sobretudo o Departamento de Justiça dos EUA. Neste ponto é muito importante entender sua extraterritorialidade. O fato da Petrobras ser cotada em Wall Street a torna submetida às leis americanas. Tudo isso foi utilizado para, usando o ativo no Brasil Sérgio Moro, destruir as maiores empresas brasileiras e o sistema político.

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Moro na fogueira.

O governo Bolsonaro já está sendo visto internacionalmente como falido (mas não dentro da administração Trump), incapaz de governar e passar reformas. Está sendo criticado dentro do próprio deep state americano, entre aqueles remanescentes da maquinaria dos Clinton. O deep state encontra-se rachado entre proto "trumpistas" (minoria) e a maioria absoluta de republicanos velha-guarda e oriundos da maquinaria Clinton e do partido democrata que ainda estão lá. Moro era um ativo destes últimos, e é dispensável já tendo cumprido seu papel. Daqui para frente seu futuro pode ser dar palestras em universidades americanas ou recrutado por um think tank americano, só não será presidente como queria. Ele, Moro, é uma peça pequena em um jogo muito maior, ele esteve no centro de toda esta articulação, e agora para o jogo continuar e passar para uma nova fase ele deve ser retirado. O deep state norte americano parece querer reorganizar o tabuleiro de forma que possam ir mais fundo em seus objetivos fundamentais, entre eles separarem definitivamente o Brasil de Rússia e China.

O fato dos vazamentos da Lava Jato terem caído nas mãos do The Intercept pode não ser mero acaso. O principal financiador do The Intercept, o bilionário radicado na França Omidyar, tem ligações de financiamento com o Wiki Leaks e com o caso que ficou conhecido como Paradise Papers. Em ambos os casos os arquivos foram na prática privatizados e apenas uma ínfima parte foi liberada ao público, as informações mais sensíveis para o deep state continuam em segredo até hoje. [1]

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Os objetivos estratégicos a longo prazo.

Nada do que acontece no mundo hoje está desvinculado da “guerra” dos Estados Unidos contra a Rússia e a China. Por que o Brasil é tão importante? No Brasil eles podem, colocando mais poder nas mãos dos militares (parte da elite compradora brasileira e repetidores dos think tank americanos anti Rússia) afastar mais facilmente o Brasil da Rússia. Mourão recentemente esteve na China, onde fez críticas à Rússia dando a entender que é a criadora e promotora da guerra híbrida. Neste contexto também está a narrativa da imprensa para a elite brasileira, visando demonizar a Rússia, de que os vazamentos da Lava Jato são obra de hackers, sendo o Telegram uma empresa russa, onde já assistimos uma tentativa em curso de se criar uma versão onde a país aparecerá como responsável pelos vazamentos. Uma conspiração com o envolvimento da Rússia e Telegram. Tal narrativa terá muitas falhas: Durov, o fundador do Telegram é um exilado e já teve problemas com o FSB, motivo pelo qual os servidores da empresa estão baseados no exterior, em Berlim e Dubai, fora da jurisdição russa. Os generais brasileiros podem comprar a tese da demonização da Rússia. Esfriar a relação Brasil-China é outra parte da estratégia do deep state.

Os objetivos com a Petrobras e com as empresas de construção civil do Brasil já foram atingidos, mas há ainda um ponto fundamental nesta estratégia maior, trata-se do agronegócio, mais especialmente o de cortar a relação do agronegócio brasileiro com China. Os três maiores produtores de soja e milho do mundo são EUA, Brasil e Argentina. A soja e o milho têm valor estratégico para a China. Estrangular este fluxo para a China é um dos objetivos maiores dentro da estratégia americana. Esta estratégia pode encontrar dificuldades mesmo entre os militares brasileiros mais alinhados com os EUA.

Prevendo isso, a China já se adianta fazendo uma parceria de ganha-ganha com a Rússia onde esta sede terras no Extremo Oriente para a plantação de soja que em 10 anos poderá se tornar uma fonte para China de maneira que esta não fique totalmente dependente da soja de Brasil e Argentina se este fluxo for prejudicado por alguma manobra americana.

O objetivo do deep state é facilitar a chegada dos militares ao poder de fato no Brasil fazendo-os com isso responder diretamente a ele, o deep state. Caso os militares não se mostrem obedientes, separando o Brasil da Rússia e contendo a China da maneira que o deep state americano deseja, há sempre a ameaça por parte do deep state de alija-los, os militares, do poder, como podem estar fazendo agora com Moro, bagunçando novamente o tabuleiro do jogo político no Brasil. Separar o Brasil de Rússia e da China, ou pelo menos de um dos dois países. “Dividir para reinar”, a geopolítica básica de Maquiavel a Mackinder, Kissinger e Brezinski se faz evidente.


 

* Este artigo foi baseado em informações dadas pelo correspondente internacional do Asia Times, e jornalista especializado em geopolítica Pepe Escobar à imprensa.


[1] para mais informações sobre o financiador do The Intercept acesse o site: https://www.ricardoantunes.com.br/noticias/3002/veja-quem-e-o-bilionario-que-patrocina-o-site-the-intercept